ABSTRACT
O Mercado Central de Belo Horizonte é um espaço de referência para a população local e regional, tem sua história associada à própria história da cidade e configura há décadas um ponto importante de turismo. Localizado na área central da cidade, desde sua implantação é caracterizado pela diversidade e pelo fluxo constante de produtos e de pessoas, que estabelecem uma interconexão de trocas materiais e simbólicas, configuradas diariamente nos processos de interação social. Este locus privilegiado pode ser observado como um espaço que reflete as dinâmicas sociais, econômicas e culturais que estão presente em toda a cidade.
Tendo em vista as recorrentes estratégias de gentrificação presentes em inúmeros exemplos pelo mundo e suas consequências nas assimétricas relações de poder e de dominação de ordem econômica, social e cultural, o Mercado Central torna-se um importante objeto de análise e reflexão, uma vez que deliberada ou silenciosamente presencia cotidianamente tensões que são capazes de transformar suas marcas originais. Assim, este ensaio pretendeu observar tanto as tensões e relações dialéticas entre local versus global quanto os processos de gentrificação e resistência, coexistentes neste espaço. As dinâmicas e tendências presentes atualmente no Mercado Central sublinham as contradições presentes na produção e reprodução das trocas materiais e simbólicas, concretizadas por meio de pessoas, de produtos e de imagens. Nosso argumento principal está alinhado ao pressuposto de que tais dinâmicas e tendências, nos termos de Lefebvre, colocam em xeque a sua «centralidade» e podem ameaçar fortemente as identidades locais e regionais, que são cotidianamente construídas e reinventadas neste espaço.